segunda-feira, 9 de maio de 2011

ALERTA SOBRE A AMAZÔNIA

A boa noticia sobre a redução da área de desmate em 2010, na Amazônia brasileira, escondeu a percepção de uma tragédia discreta, mas aparentemente inexorável. Aumentou muito a área de floresta degradada, aquela em que sobram árvores mas se reduz parte da flora, aquela em que o solo está seco e portanto mais exposto a incêndios. A floresta degradada abre facilmente caminho ao desmatamento e ao fogo.

Na região da Floresta Amazônica cortada pelo Rio Solimões, cresce desde o início de 2010 um areal que já se estende por quilômetros. Nunca se viu destruição tão rápida e avassaladora, na região, que no ano passado sofreu sua pior estiagem, desde 1940. Em Manaus, o Rio Negro atingiu seu nível mais baixo desde 1902, quando as medições começaram a ser feitas. Das 62 cidades Amazonas, 50 declararam estado de emergência ou de calamidade.

A realidade atual da Amazônia, além de embaçar a boa notícia da queda do desmatamento, põe em dúvida o projeto de aproveitamento da imensa bacia amazônica, para transformá-la em grande fornecedor de energia elétrica. A perspectiva é de que nos próximos anos venham a ser licitadas mais onze usinas hidrelétricas na região, podendo acrescentar mais 15,8 mil MW à capacidade instalada de energia no Brasil.

As grandes construtoras brasileiras, respeitadas mundialmente por sua comprovada experiência na construção de barragens, acompanham com especial atenção os projetos de Belo Monte, Teles Pires e, principalmente, estão atentas à discussão sobre as usinas do complexo do Rio Tapajós. Ao mesmo tempo, participam das obras das usinas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira.

As projeções já conhecidas indicam que a Amazônia poderá gerar um quarto da energia nacional por volta de 2020. Nunca é demais lembrar que essas obras, todas elas de grandes proporções, demandam a criação de uma vasta rede de infraestrutura, para que a energia gerada chegue aos pontos de consumo. Calcula-se que será preciso construir nada menos que 23 mil quilômetros de linhas e transmissão.

Esse cenário imaginado pelo governo e as empresas do setor tende a desmoronar, diante da realidade de uma desertificação que avança, embora o desmate diminua. Estudiosos da região costumam dizer que maior que a Amazônia só mesmo a ignorância a respeito da Amazônia. O bom senso aconselha a intensificação de estudos em profundidade, até com a participação dos outros países amazônicos, antes de prosseguir na ocupação acelerada que as hidrelétricas e a agropecuária já iniciaram. O alerta está dado pela seca prolongada e os areais em expansão.

Diário de São Paulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário